sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Curitiba, Abril de 2014 - Parte II

Conduzir em Curitiba, dizia eu aqui, é uma experiência fabulosa. Requer um estilo de condução defensiva, misturada com muito sangue frio e ao mesmo tempo momentos de sangue quente e velocidade de resposta. Um pouco como na hora de ponta em Lx, mas mil vezes pior e mais intenso.

Curitiba (cidade), tem cerca de 1,85 milhões de habitantes para uma área de 435Km2. Deixo-vos aqui um link com alguns dados gerais sobre a cidade e algumas das coisas interessantes que tem para oferecer aos visitantes.

A densidade populacional registada nos sites oficiais é idêntica à de Lisboa. Contudo os dados correspondem ao senso de 2009 e já estão um pouco desactualizados. Antes de Abril de 2014, já tinha ido a Curitiba algumas vezes e notei manifestamente a diferença. Quer na densidade em si, quer no tipo de condutor. O Curitibano de gema queixa-se neste momento que a cidade foi invadida por Paulistas, com a sua condução tipicamente agressiva de cidade-selva e isso é, de facto, nítido. Para além da típica adaptação que é necessária quando se conduz numa cidade estrangeira, a que obviamente não estamos habituados, e que tem mais que ver com sinalização e desenho de faixas do que outra coisa, é necessária também uma adaptação ao tipo de condução. Obviamente, não é tão complicada e trabalhosa como a adaptação a outras regiões super-populadas/desorganizadas do mundo (estou a pensar em Nova Deli, Luanda, algumas cidades asiáticas do extremo oriente, e por aí fora...), mas ainda assim requer algum esforço.

Após o período de adaptação (uns 5-7 dias a conduzir todos os dias), acaba por ser mais descontraído. Curitiba é extremamente bem organizada em termos de ordenamento de trânsito (e de ordenamento no sentido geral, na verdade). Isso ajuda muito. Claro, ir lá em ano de Copa, a escassos meses do início da mesma, e com obras intermináveis para concluir, já introduz alguma entropia. E o caos faz-se sentir um pouco mais, com habitantes irritados pelos transtornos e pelas implicações da Copa em si (os Curitibanos de gema são muito críticos de uma maneira geral. Nem todos o são, mas quer-me parecer que a proporção é grande). Completamente diferentes daquele espírito mais "easy going" dos brasileiros do Nordeste ou do Rio, das praias e do turismo a que estamos habituados).

Voltando à condução, e às filas de trânsito agravadas pelas obras nas estradas, por causa dos acessos aos estádios, há também uma mania peculiar de enfiar 4 ou 5 faixas estreitas numa estrada, que ainda por cima costumam ter estacionamento nas pistas de fora (o que vale é que estas faixas-estacionamento, têm dias e horários estipulados para serem usadas como tal. Ainda assim, são tão estreitas, que é difícil não acertar nos espelhos dos carros estacionados sem fazer razias nos carros que estão na pista do lado). Resumindo: as faixas estreitas, o Curitibano que gosta de fazer slaloom entre pistas/faixas e não havia viagem que eu fizesse em que não soltasse um "xingamento", uma exclamação escandalizada, ou até uma gargalhada divertida. Uma coisa é certa, conduzir em Curitiba não é coisa monótona. É como conduzir entre milhares de taxistas lisboetas... Só que ainda piores em temeridade! Hahahahaha
Ah! Ainda relativamente à dinâmica das faixas das ruas: não há cruzamento em que as faixas do lado de lá do mesmo estejam alinhadas com as do lado onde estamos. Isto, como podem já adivinhar, causa stress adicional no sentido de a atenção aos outros condutores ter que ser ainda mais redobrada: assim que o sinal fica verde, parece aqueles portões das corridas de cavalos. Abre-se a cancela, e todos correm "all over the place" e é um salve-se quem puder para recuperar a faixa desejada do lado de lá. A juntar a tudo isto, ainda houve algumas mudanças recentes nas regras e alterações nos sentidos das ruas, o que torna a escolha da faixa desejada um pouco complicada, porque se adoptamos a faixa que queremos, há sempre algum curitibano que não respeita e de repente vira à nossa frente sem qualquer aviso. O que nos vale aqui, é a nossa inexperiência, cautela, que influenciam a velocidade a que vamos. Uf! ;-)
Mas ao fim de uns 10 dias, já estamos a fazer também slaloom entre faixas e a fazer "jeitinhos" para motards e condutores apressados, e a levantar a mão com um sorriso aquiescente para alguém que está na faixa errada e quer passar-nos à frente. Ou mesmo nós na faixa errada e a querer passar à frente de alguém. As buzinas ouvem-se, mas é raro. Ali há todo um entendimento silencioso e caótico que quando se compreende, passa a ser divertido de observar.

(Tão pequenino e já tão precoce, a querer colocar o contador a zero antes de iniciar uma viagem... ;-) )

Agora passando para o ponto de vista dos que andam a pé... Hum... Há zonas da cidade em que é impossível andar com um carrinho de bebé. Nem imaginam as voltas imensas que tivémos que dar ao ter a infeliz ideia de fazer alguns percursos diferentes. Chegávamos a um ponto, já bastante avançado, em que tínhamos mesmo que voltar para trás para retomar o caminho do costume. Além disto, é claro que há alguns bairros que não se adaptaram ainda ao aumento do fluxo de trânsito. Os semáforos são inexistentes, ou raramente se tornam verdes para os peões passarem e cuidado ao atravessar onde não há semáforos. Em Curitiba não há prioridades para quem anda a pé. Isso está a mudar, e começarem pelo centro da cidade. Agora, e apesar de muitos automobilistas não estarem habituados e não respeitarem, as passadeiras funcionam como aqui: há alguém à espera para atravessar a pé, numa passadeira, é preciso parar o carro e deixar passar. É a regra. Mas nos bairros mais periféricos ainda não é assim. Lá chegarão, certamente. :-)

E depois de um post inteiramente dedicado à condução em Curitiba, vou fazer novo intervalo. Acho que no próximo post me vou dedicar à gastronomia e aos restaurantes. E talvez fale também no Mercado Municipal, que é um dos "must see" obrigatórios desta cidade. :-)

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