Eu tenho sentimentos mistos relativamente a grandes viagens: por um lado há muito pouca vontade de preparar malas. E agora com um pimpolho de 2 anos, as coisas tornam-se complicadas a duplicar (incluindo o preço dos voos). Por outro lado, depois de tudo pronto, começa aquela excitação típica da viagem em si. Este sentimento é muito positivo.
Há sempre aquela vontade de voltar a algum lugar onde já se esteve e se gostou, ou de se visitar um país diferente, ou uma cidade nova! :-)
Desde pequena que tenho um certo hábito de viagens grandes. O meu baptismo de voo foi uma viagem Lisboa - S. Francisco (ou seria Los Angeles? Agora não consigo precisar), era eu um pouco mais velha do que o L.. Foi em 1981. Ainda guardo na memória algumas imagens bastante nítidas daquela viagem aos EUA.
Este ano, a decisão foi repentina. O L. ia completar o 2º aniversário e passaria a pagar tarifa completa um mês antes. Foi uma espécie de "é agora ou nunca!". E era mesmo! E foi agora!
Curitiba é no Sul do Brasil, como sabem. O Sul do Brasil é um pouco como aqui em Portugal. Só que ao contrário. E mais agreste em termos de frios, calores, chuvadas. Mas o que quero dizer é que não é o mesmo clima abafado do Nordeste. É frio e seco no Inverno, quente e chuvoso no Verão... De uma maneira geral. Porque na verdade, há as 4 estações do ano num só dia durante mais de metade do ano, e Curitiba é também conhecida como "Chuvitiba".
Abril pareceu-nos um mês excelente para pôr pés ao caminho (ou asas ao céu, o o que quiserem). Se não, vejamos: fora de época alta (Natal e Ano Novo é época alta em qualquer ponto do Brasil. Eu sei, já experimentei), já sem ser no meio do calor abrasador e abafado, e sem ser em pleno Inverno gelado (mas lindo e soalheiro! E também um pouco chuvoso..). Certo?
Certíssimo. Foram umas férias fantásticas! A viagem correu lindamente! Nenhum dos cenários dantescos que eu vivi na minha mente se confirmou. O L. dormiu a viagem toda, apesar de ligeiramente constipado e apesar da excitação da novidade. Demorou a adormecer e estava bastante birrento e electrico, mas quando finalmente apagaram as luzes da cabine, lá adormeceu e só acordou à hora do pequeno-almoço, a menos de duas horas do destino (a viagem dura 9:30h, começou às 23:30 de Lisboa). Foi uma maravilha (para cá, menos bem, mas dentro do género, foi optimo também!).
O L. adorou conhecer as tias e os tios, a prima, os amigos... Portou-se lindamente! Só tivémos uns problemas com a alimentação, pois a adaptação aos novos sabores foi lenta e mãe que é mãe tem um ataquinho cardíaco a cada colher de comida cuspida ou recusada. Mas entre iogurtes naturais, bananas (muuuitas bananas...), uvas, sopas, frango, bolachas, papas, os cozinhados da tia Xanda, etc... Lá foi aceitando comer quantidades cada vez mais decentes e portanto mais espaçadas (os primeiros 2-3 dias foram passados em casa comigo a correr atrás dele a tentar que comesse.. uf!). Digamos que a 3-4 dias do regresso as coisas estavam a correr como em casa... hahaha
Os dias passaram tranquilamente, com brincadeiras no relvado em frente à casa, ou dentro do carro do Tio Nê, ou no caminho da entrada, ou dentro de casa, ou nas poças de água deixadas pelas típicas chuvadas Curitibanas de fim de tarde... Com o tempo lá fomos conseguindo relaxar e apreciar o L. nas suas descobertas do mundo. Desfez e refez todo o armário de tampas e caixas de plástico da cozinha da Tia Lu, deu cabo dos ouvidos de todos na bateria do tio, cansou a prima Júlia com pedidos de colo e abracinhos (aquilo é que foi amor à primeira vista, pela prima! Que fofooo!), esborrachou o Tobias, o cachorro idoso, extremamente paciente para o L... Despejou o frasco de "balas" da tia Xanda vezes e vezes sem conta. Descobrimos que já tinha descoberto o Pocoyo, e descobrimo-lo também nós. É giro! Também descobrimos alguns membros interessantes da fauna Curitibana:
Para não mencionar os passarinhos de várias cores, sons e feitios (alguns até com um feitiozinho bem agressivozinho).
Passeámos pela cidade, a pé, com um carrinho de bebé emprestado (foi providencial! :-) ). Passeámos de carro pela cidade, com um Volkswagen empresado! Providencialíssimo também!). Curitiba é uma cidade simpática! Como todas as cidades brasileiras, tem o seu "modo de emprego". É uma cidade violenta (e cada vez mais, pelo aumento populacional de que tem vindo a ser palco ao longo dos últimos 10 anos. São sobretudo pessoas das áreas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro que fogem à ainda maior violência destas cidades gigantestas - até tenho aqui um episódio impressionante para vos contar acerca do 1,5 milhões de pessoas que saíram para passar a Páscoa na praia e eram esperadas num Domingo à noite todas de uma vez, de volta a São Paulo. Já conto, já conto.).
Mas repito: Curitiba é uma cidade simpática. Se não estivéssemos a falar de um país com dos maiores elevados índices de violência urbana, eu até me sentiria lá como em Lisboa. Mas não consigo evitar uma sensação de fundo de insegurança, que apesar de se ir aligeirando a cada vez que lá regresso... Não me abandona nunca. A par de Curitiba, as cidades onde me sinto mais em casa, como se estivesse na minha querida Lx, são Toronto (magnífica!) e Paris (adoro!).
Mas adiante!
Conduzir em Curitiba é uma aventura! Será, principalmente, uma questão de hábito, mas nos 20 dias em que lá estivémos (fui eu a condutora de serviço), comigo a conduzir diariamente pelas ruas da cidade, não consegui habituar-me.
Já conduzir pela famosa BR116, que além de percorrer o Brasil de alto a baixo (e vice versa), liga Curitiba a São Paulo, ui, essa é que foi uma aventura "daquelas".
Felizmente o L. dormiu boa parte da viagem, e quando não dormia, ia bem disposto a cantarolar e a "conversar".
E parece-me que vou dividir esta viagem em vários posts, porque este já vai longo e o objectivo não é escrever um romance de viagem num post. Mesmo que fosse um romance baseado em factos reais. ;-)
Até já, para quem quiser continuar a ler. :-)